Uma experiência de Intercâmbio no Rotary
Há muitos anos tive a oportunidade de hospedar um dos 5 canadenses que foram a Curitiba pelo Programa de Intercâmbio de Grupo de Estudos, promovido pela Fundação Rotária. Eu não tinha ideia do que estava por vir nestes quase 40 dias que se seguiram. Junto com a expectativa do desconhecido, ao aceitar este encargo vieram também algumas preocupações. Ao mesmo tempo em que fiquei pensando em como fazer para lhe proporcionar o melhor conforto e a maior atenção, também me afligia a ideia de ter um estranho em minha casa, participando de minha rotina e de minha intimidade por tanto tempo.
Mas o tempo foi passando, e os fatos foram falando por si só. Naquela vontade de mostrar nosso país e nossa cidade, fizemos muitos passeios. Juntamente com outras famílias que também os hospedavam, visitamos parques, monumentos, restaurantes, passeamos pela feirinha de Domingo. Fomos às nossas praias onde, sem frio nenhum, os canadenses tomaram banho de mar e se secaram ao sol da primavera. Adoraram! Até para Foz do Iguaçu nos dispusemos a acompanhá-los, para que pudessem admirar essa maravilha da natureza que são as cataratas. E eles não somente apreciaram aquele volume descomunal de água, como se encantaram com os quatis que vêm ao encontro dos turistas em busca de comida.
Enquanto isso, íamos trocando informações sobre os dois países, fazendo comparações. Descobríamos o jeito de ser de cada qual, a maneira como as sociedades estão construídas, e como as pessoas se relacionam. Os canadenses descobriam que, apesar de uma sociedade aparentemente tão distante, temos muitas coisas em comum. Como disse, em tom de brincadeira, o líder do grupo, o rotariano Thor, em sua apresentação na Conferência Distrital em Paranaguá, essas similaridades se mostram tanto na organização geral da cidade quanto em relação ao clima, pois em Vancouver eles têm claramente as 4 estações no ano, e em Curitiba, nós temos as mesmas 4 estações em um só dia.
Não demorou muito para percebermos que íamos criando laços entre nós. Laços de afeto, de carinho, de amizade. Uma amizade que foi se estabelecendo em diversos níveis: uma amizade entre nós, brasileiros, com os não mais desconhecidos canadenses, mas também entre os próprios integrantes do grupo do intercâmbio, e entre nós, o grupo que os estava recepcionando. Alguns dos rotarianos que os recepcionaram nem ao menos se conheciam antes disso, e outros tiveram a oportunidade de um reencontro e de uma aproximação a partir desse contato.
Da mesma forma, esta situação nos possibilitou uma vivência maior de Rotary. Ao acompanhar os visitantes, tivemos o privilégio de conhecer vários clubes em Curitiba, e iniciar um intenso contato entre eles. Assim também fomos levados a uma participação mais efetiva na Conferência Distrital, pois éramos responsáveis pelo grupo de intercâmbio de estudos.
Os canadenses se foram, e deixaram uma marca em nossas vidas que jamais será apagada e, conforme eles mesmos nos confessaram, nós deixamos nas suas. Tanto que nos convidaram, insistentemente, para ir visitar seu país, e eu fui.
Que surpresa gratificante foi ver o espírito fraterno com que fomos recebidos por eles, a preocupação em nos levar conhecer todos os pontos da cidade e da região onde moram, as atenções diárias, as programações organizadas. Tudo para que pudéssemos trazer do Canadá e dos canadenses a mesma imagem que eles levaram do Brasil e dos brasileiros, de um povo hospitaleiro e gentil, vivendo em uma sociedade desenvolvida e humana.
Mas é preciso relatar que a experiência dos canadenses no Brasil foi tão forte e profunda que um deles conheceu uma brasileira, após um tempo casou-se com ela, tiveram um filho, e vivem juntos, em Vancouver, até os dias de hoje.
Quando penso que em cada canto deste planeta há indivíduos como nós que, por meio desse programa promovido pela Fundação Rotária, estão convivendo tão proximamente com pessoas de outra cultura e de sua própria, numa troca contínua de experiências, emoções e amizades, tomo consciência da real força do Rotary como propulsor da paz e das boas relações entre os homens.
É uma experiência que vale a pena!

Bernadete Zagonel é Doutora em música pela Sorbonne – Universidade Paris IV. Tem 29 livros publicados, sendo 27 deles sobre o Ensino de Música, publicou diversos artigos em revistas especializadas, e escreveu para o jornal Gazeta do Povo por mais de 10 anos. Foi professora titular da Universidade Federal do Paraná e da Escola de Música e Belas Artes do Paraná.
Pertenceu ao Rotary Club Curitiba durante mais de 20 anos, do qual foi Presidente, tendo sido a primeira mulher a ocupar esta posição, quando o clube completava 77 anos. Foi Governadora Assistente, por duas gestões, no Distrito 4730. Atualmente mora em Boca Raton, Florida (USA) e faz parte do quadro de Diretores do Rotary Club of Boca Raton West na gestão 2021-2022. Para contato: Website: www.bernadetezagonel.com.br Facebook: facebook.com/bernadete.zagonel Instagram: @bernadetezagonel